A inauguração desta criação em Abril não é indiferente ao facto de ter sido o mês em que, em 1926, a Oliva terá iniciado a sua atividade e o mesmo mês em que, em 2010, foi decretado o seu fecho.
Não pretende ser uma comemoração senão do presente em que estamos, em S. João da Madeira, com estas pessoas que se juntaram para ouvir a cidade e imaginar o que seria uma cidade dentro da cidade (como se diz que era a OLIVA).
Teaser
Memória
do Processo
Será a gruta de Calipso, uma imagem perfeita para expressar o complexo industrial e, ainda, "habitacional" da Oliva?
Calypso é na mitologia grega uma ninfa da mítica e paradisíaca ilha de Ogígia. Ela foi aprisionada numa gruta, dentro de uma montanha. A gruta era profunda com amplos salões que se abriam para jardins, com grandes árvores e cursos de água que serpenteavam. Calypso, vivia na companhia de outras ninfas, que cantavam para ela enquanto ajudavam-na a fiar e a tecer.
Com o esperado fim publicitário, também o EP Oliva, para quem comprava uma máquina de costura Oliva e até, para os trabalhadores da empresa, seria um incentivo, um "ambientador", para o trabalho ou para a arte da costura.
Calypso era tentadora. Calypso, significa, "aquela que se esconde", mas também, "aquela que desperta o desejo".
Quando Ulisses naufragou na costa da ilha, Calypso o acolheu da melhor maneira possível, agradando-o sempre. Seduziu Ulisses e o convenceu a ficar na ilha, eternamente. Passados 7 anos, Hermes, a pedido de Zeus, foi falar com Calypso para que deixasse Ulisses voltar ao seu lar. Calypso, mesmo contra a sua vontade, deixou-o partir e forneceu-lhe os meios necessários para a viagem de volta.
Encontrei no mito de Calypso interessantes pontos de conexão com o Mundo/ Mito Oliva.
Polaridades…
no mito, na Oliva e na cidade
Existem dois polos: o habitante local e o que vem de fora, o hospedeiro e o navegante.
A diversidade de polos (heterogeneidade participativa) é a marca que gostaria de encontrar no grupo de participantes, ou antes, no núcleo comunitário.
Mais polaridades/ estados (na Oliva):
O interior: O trabalho árduo, a maquinaria bruta, o som nobre do metal e da temperatura da fundição, o som do aperto e do desaperto, da carga e da descarga, ..., a madeira, a água, ...
O exterior: A publicidade, o design, a arquitectura, o conforto, a luz, ..., a educação, o entretenimento, ..., o sonho, o ideal
Outra coisa, não menos interessante;
Pelo que li, Homero descreve a ilha de Ogígia como sendo a representação dos Campos Elísios e Calypso, como uma deusa da morte.
Os Campos Elísios, no Hades (reino dos mortos), seriam um lugar paradisíaco que pertencia ao inferno, reservado aos heróis gregos, a fim de escapar às escuridões do Hades. Nesta versão, a alma de uma pessoa boa, porém, sem nenhuma glória ou mérito significativo, iria para o Campo de Asfódelos, descrito como uma planície monótona repleta de árvores sombrias (em Portugal seria um eucaliptal, ainda que, sem sombra).
Mais tarde, enraizou-se na cultura grega que os campos Elísios seriam o destino para qualquer alma de uma pessoa boa. Provavelmente, nesta versão, os campos Elísios, já não são um lugar pertencente ao inferno, nem Ogígia a representação deste lugar, apesar da ilha continuar a ser, igualmente, um lugar paradisíaco.
...Lembrei-me das fotografias que a Joana mostrou-me com trabalhadores a receber um Pin ou um relógio pelos anos de casa (de mérito), ou será antes, anos de caso com a Calypso?
Com isto e mais algumas coisas, agora estou nesta rotunda:
1)
Uma grande caixa de ressonância construída com as grandes gavetas (com dimensões iguais e divisões diferentes no interior). Apesar do corpo exterior ou moldura gráfica das gavetas ser o mesmo, a constituição interior ou habitat de cada gaveta é diferente. Uma grande caixa de ressonância que se forma por uma multiplicidade em série. Um rosário de histórias, uma devoção em torno de um objectivo comum. As gavetas associadas umas às outras na vertical, formam, então, as paredes da caixa, com uma altura que não permite a visão para o seu interior. Os interiores das gavetas, com as respectivas divisões, estão no lado exterior da caixa. Estes interiores contêm e expõem Objectos Identidade, memória, ... dos participantes, ... talvez, somente do grupo dos novos habitantes de São João, enquanto no interior da caixa ressoa um corpo sonoro, ... os sons, as histórias dos antigos trabalhadores (um corpo sonoro ou mais ou menos talhado).
2)
Com as plantas e os desenhos técnicos, a criação de um mapa sonoro. Um plano vertical, um moral, com anotações sonoras do espaço. Pontos independentes de incidência sonora ou episódios sonoros espalhados pelo plano gráfico em reprodução ou emissão simultânea. Uma questão a estudar, seria o volume de cada incidência na definição do todo sonoro e, ainda, de forma a que o "burburinho" deste todo, mais ou menos intenso, não anulasse a escuta perceptível de cada incidência.
É um plano de incidências independentes que se escutam em proximidade das mesmas e de uma incidência global, que se escuta a uma distância.